Um vírus pouco conhecido pela comunidade cientifica mundial tem gerado debates sobre como a sociedade deve reagir para evitar um contagio acelerado e um caos nos serviços públicos de saúde. Se de um lado a ciência, a OMS (Organização Mundial de Saúde) e a maior parte das lideranças políticas internacionais defendem o isolamento social rigoroso; do outro lado, grupos defendem a flexibilização do isolamento diante de um possível colapso econômico que levaria o desemprego e a miséria social.
Na região de Jales, a discussão também não está distante. Enquanto o prefeito Flávio Prandi tem seguido à risca as determinações e decretos do governador João Dória que, por sua vez, está embasado em grupos de estudiosos, médicos e acadêmicos; há também aqueles que defendem a reabertura total do comércio realizando, inclusive, carreatas de mobilização com intuito de defender a necessidade de movimentar a economia.
Qualquer que seja a posição adotada nesta atual situação pandêmica, um relevante estudo realizado pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNESP de Presidente Prudente precisa ser levado em conta. Após debruçar-se sobre dados e informações diversos a despeito do comportamento do COVID-19 no Estado de São Paulo, ficou claro o efeito cascata que vírus vem adotando.
Como o novo Coronavírus tem um comportamento de contágio rápido e fácil, o mapeamento mostra que, após assumir uma curva ascendente de infectados na capital, o próximo passo é chegar aos 13 principais centros regionais do estado: Araçatuba, Araraquara, Bauru, Campinas, Marília, Piracicaba, Santos, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, São José dos Campos, Sorocaba e Votuporanga.
De acordo com o Prof. Raul Guimarães, do Laboratório de Geografia da Saúde na UNESP, a expansão do vírus ocorre por meio dos principais eixos rodoviários que conectam a capital com o interior. Após atingir esses municípios centrais do interior, Guimarães afirma que os centros urbanos de maior porte e que tem forte relação com estes centros regionais serão os mais atingidos.
Devido ao distanciamento entre os centros regionais e a capital, no entanto, acredita-se que a curva de contagio pode estar com 2 a 3 semanas atrasadas em relação ao número de infectados no interior. Outro detalhe importante é que a velocidade de contágio caiu, ou seja, se antes 1 pessoa contagiava 4,5 pessoas, agora essa taxa reduziu para 2.
É nesse sentido que se justifica o isolamento social severo defendido pelo governador do Estado. Com a redução da velocidade de infectados, as políticas de saúde ganham tempo para as tomadas de decisões, a ciência consegue maior folga para descobrir a vacina e as UTI passam a ter capacidade de atendimento pleno, justificam os estudiosos.
JALES E SUA POSIÇÃO GEOGRÁFICA
Em relação à Jales, a preocupação é ainda maior. Conforme o mapa aponta, a cidade está localizada num raio de 150 km de três centros regionais considerados na pesquisa: São José do Rio Preto, Araçatuba e Votuporanga. A proximidade preocupa porque, depois destes centros, Jales tem uma forte capacidade urbana por estar no centro de uma microrregião estadual com 23 cidades do entorno que somam mais e 150 mil habitantes.
Concomitante a esta proximidade, outra analise importante está na capacidade dos serviços e comércio ofertados por Jales. A cidade quando comparada aos municípios de sua microrregião é a única que abriga o hospital com maior número de leitos (a Santa Casa de Misericórdia com 144 leitos normais e mais 10 leitos na UTI), uma unidade do Hospital de Amor de Barretos, o maior corpo clinico, grande rede de lojas de departamentos e varejo, além de unidades federais da Justiça, do Ministério Público e da Polícia. Como Jales está conectada com os 23 municípios por meio de estradas e rodovias, tem-se, então, pequenos eixos de mobilidade de pessoas e contaminação.
OS EIXOS RODOVIÁRIOS
Outra situação que merece alerta são os eixos rodoviários que ligam Jales com os centros regionais analisados na pesquisa. Pela sede da microrregião atravessam a Rodovia Euclides da Cunha que liga a cidade com Votuporanga e com a Rodovia Washington Luiz, conectando com S. J. do Rio Preto. Torna-se, assim, uma possível via expressa do COVID-19 para os jalesenses.
Na mesma linha dos eixos rodoviários, merece atenção a Rodovia Elieser Montenegro Magalhães que liga Jales a outro importante centro regional: Araçatuba. Ou seja, mais um potencial corredor de contagio para o vírus.
ÍNDICE DE ENVELHECIMENTO
O mapa também traz o índice de envelhecimento dos municípios de São Paulo. Este dado revela a relação existente entre o número de idosos e a população jovem. É habitualmente expresso em número de residentes com 65 ou mais anos por 100 residentes com menos de 15 anos. Dos 645 municípios analisados, Jales tem uma proporção muito acima da média do Estado de São Paulo. Isso revela a maior percentagem de idosos e, por isso, uma melhor qualidade de vida.
Mas, ao considerar que as vítimas de COVID-19 que vem à óbito possuem idades mais longevas, o dado pode se tornar preocupante por atingir fatalmente um número maior de pessoas.
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